quinta-feira, 25 de julho de 2013

Tia Faeca indo a Dom Pedrito em 25/06/2013

Querida Familia,
 Daqui   uns minutos estamos partindo pra Dom Pedrito , pra misso em homenagem ao  Nilton, que a sua prima e amiga de infância mandou rezar . A missa vai ser às 18 hrs na Igreja Matriz , lá onde o Nilton foi batizado e existe aquela foto ao pé do altar de Santa Terezinha. Ele pequenininho, nos braços da madrinha Faustina e do Padrinho Leo. Assim nos unimos a todos voces , cada um do deu modo,  nos querendo bem e nos reunindo em afeto, como diz a  tia Rodas, para lembrar  do tio Nilton. Segue ele caminhando, deixando as pegadas dos seus passos.  
Abreijos
 SIGAMOS           
 tIA fAECA E tIO jACQUES

Mensagem Mossmann

Não tenho uma poesia para transmitir ou alguma passagem especial. Mas, tenho um depoimento a prestar, a partir de um tema que o Fischer fez a razão de sua vida. EDUCAÇÃO. A minha orientadora na PUC, professora doutora Cleoni Fernandes, na penúltima aula deste semestre disse a seguinte frase: “Existe um divisor de águas na educação antes e depois do Nilton Fischer”. Para mim isto se revela um marco tratando-se de uma pessoa especialamiga de todos. Te confesso que além de ser advogado por convicção e por profissão foi o Nilton que me despertou para a educação no PIO XII.
José Luís Mossmann Filho

Fotos de Maria Cecília (Neca) Bueno Fischer (irmã)



Homenagem de Fernanda Fischer (sobrinha) - Nilton Papai Noel


Niltão Coloradão, por Claudio Bueno "Nego" Fischer, irmão

Pois é,  uma lembrança que sempre me ocorre, principalmente agora, nestes tempos distantes que vivo....são as conversas sobre futebol que tinha com ele, inter, futebol, inter, futebol, inter, inter....sempre acolhedoras conversas que eram assim: nego, tu não acha esse jogar muito ruim? puta que pariu nego, esse cara não joga nada, e o nosso técnico? como pode ser tão burro ( acho que sempre ele se referia ao Celso Roth , rsrsrsrs) , e tem a mais clássica do niltão, quando ele se referia a indicar um jogador para o Inter. Nego, pra ser bom jogador num time grande e aguentar time argentino, etc... tem que ser "puta velha" , se não, não adianta...
era isso, por equanto...
 
com carinho,
nego

Mensagem de Maria de Fátima Bueno Fischer - Fata, irmã

Orgulho de dizer, MEU IRMÃO!
O que cuida,
Que brinca
Que tem uma manha para lidar com conflitos
Que adorava ver o TV sábado a tarde os programas mais bregas
Que cantava e vibrava com Amado Batista, Wando
(no aniversário dele um ano, fez uma festinha para as irmãs, e colocou bem alto o Wando, cantamos e dançamos com ele)
Tinha a capacidade de singularizar o que fazia,
Lembram do aniversário dele, de 6.0? Comprou e fez para cada um, cada uma um prato diferente, para a madrinha Tininha, o maior carinho e dedicação! Tinha comprado cafe especial para nos homenagear! Este aprendizado é impressante, para quem como nós que viemos de um grande coletivo de filhos, de irmãos, ele, o mais velho buscava transformar a relação de forma tão singular!!!!
Sempre digo, o Nilton tinha um olhar tão feminino! A nós irmãs, imagino que cada uma tenha algo para contar, mas comigo era de uma intimidade, de uma cumplicidade que me dava um conforto, e uma visão sempre mais , digamos mais generosa sobre o problema, a questão!
Na semana anterior a sua partida, tive contatos frequentes, pois estava a me prientar sobre um discurso que faria como paraninfa, e ele em disse: o que importa são os que te escolheram pensa neles e faz a escrita! Deixa o afeto e o que havia se produzido entre voces! Me questijou como iria vestida! Olha só! E no sábado dia 25, me ligou a noite para saber como tinha sido, e claro, se estava bonita!!! Gente, estas lembranças ultimas , voces nem imaginam como voltam e voltam!!! Só não volta ele!!!! Tiro de cada palavra, e de cada dica daquela semana para me orientar, voces imaginam isto? Até um filme, ele falou comigo e com a Carol, na sexta dia 24, para dar , mais uma vez, uma dica, que era bom.
Nilton, que tinha uma metodologia de VIDA, que amava a vida, que dançava, bem despreocupado, que cantava a VIDA!!!! Que esteve e está na vida de tantas pessoas, nossa!!!!
Sim, viram que ainda não consigo falar no passado, porque felizmente ele está presente. Quando vejo a Ina e Gú, os quais, digo agora, conheci muito, muito mesmo na passagem do Nilton,nossa! Surpresas maravilhosas, é também como se o Nilton querido, estava dando passagem para eles se aprsentarem a nós, pelo menos a mim, com suas grandezas, que me fazem hoje dizer com muita força e convicção,
ORGULHO DE DIZER ESTES SÃO MEUS SOBRINHOS QUERIDOS, UM POUCO/MUITO do NILTON EM NÓS!!!!
Com um saudoso carinho, com um nó tão grande na garganta, lágrimas que retornam cada e toda vez que penso em ti, QUERIDO IRMÃO!
O que mais tenho saudade dele é da voz, queria tanto poder te ouvir!!!!!

e-mail de Nilton para Luis Augusto Fischer ("Mano", primo)

De: Nilton Bueno Fischer [mailto:niltonbf@terra.com.br]
Enviada em: quinta-feira, 18 de dezembro de 2008 12:41
Para: Luis Augusto Fischer
Assunto: ENCONTREI 1 OUTRO BENNO FISCHER!!!

Mano, tudo?
não vais acreditar... mas encontrei com outro Benno Fischer!
Ontem, agência do Banco do Brasil, UFRGS.
Vou depositar um dinheiro para a APA e encontro duas senhoras, faixa dos 50, cores do povo simples (marron), roupas de quem tava 'suado'.
Perdidas tentavam falar por entre os vidros de segurança que dividem o hall de entrada e caixas eletrônicos e os funcionários.
Nem guardas e nem funcionários entendiam seus gestos simples de mão abanando para serem notadas.
Fui ao caixa eletrônico, preenchi o que devia e depositei o cheque conforme é praxe.
Fiquei titubeando sobre 'me meter ou não' no que observei.
Resolvi falar com as senhoras. Disse que era professor da UFRGS mas não funcionário do Banco.
Elas toparam o papo e comentaram que tinham vindo naquela tarde desde Viamão com busca de uma informação a respeito de que haveria algum dinheiro, crédito ou algo para seus familiares, isso que já tinham ido na agência central do BB.
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Peguei um envelope daqueles de depósito e com caligrafia grande coloquei o número do telefone da Tatiane, ''minha gerente de conta'', para que hoje elas falassem com ela.
Me deu uma coisa em dizer ''olha diz que foi o professor Nilton Bueno Fischer que deu o telefone dela.
A mulher mais magra e alta disse: ''como?'' 'fixer' (um som diferente do que nós usamos para o nosso sobrenome, pelo menos entendi assim).
Eu coloquei então, depois do número do telefone, o meu nome por inteiro!
A senhora essa disse: "me deu um frio, senhor ... o sobrenome do meu marido é esse mesmo... e daí tirou do bolso, direto, a carteira de identidade do seu falecido esposo (razão da busca das informações junto ao banco...de ordem financeira e que não sabiam).
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Peguei a cédula de identidade, 'mole' pelo uso, plástico querendo se abrir... e fui devagarinho no lugar da foto e vi um senhor pelos seus 50 e poucos, cabelo rente à cabeça, olhos castanhos, cansado.
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NOME: (Udo) BENNO FISCHER!!!
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O outro Benno Fischer com os 2 ENES!!! mas (como só ia acontecer) tinha uma diferença, apareceu um UDO na frente do BENNO.
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Que coisa meu amigo!!!
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E saí da agência em alfa!
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Abraços FISCHERIANOS, de ordem do seu Benno!
Nilton.

Mensagem Natalia Fischer - sobrinha

Nessa correria  louca do dia dia, não tinha visto essas trocas de emails sobre as mensagens em relação ao tio, mas tenho tb muitas lembranças bonitas dele e algo que me marcou muito mesmo foi um convite para atender o pessoal da reciclagem, fazer uma avaliação das necessidades odontológicas deles para o Nilton conseguir prioridades no atendimento aos que mais precisassem.
 
Enfim, foi um momento muito especial que compartilhamos. Fui até lá com ele, avaliei os pacientes, indiquei tratamentos, encaminhei para procedimentos mais urgentes. Mas o mais interessante de tudo isso, foi o carinho que essas pessoas tinham por ele. Ficaram gratos a mim por ter ido atendê-los, mas o agradecimento, a forma como falavam do MEU TIO NILTON, nossa, era muito emocionante de ver!
 
Realmente eu tenho muito orgulho de ter esse tiozão ( pq eu o tenho sim ainda, em meu coração) e saber o bem que ele fez para tantas pessoas!!
 
Se fosse para dizer em palavras como eu o resumiria, seriam: SOLIDARIEDADE, BONDADE e PAZ no CORAÇÃO!!
 
Um beijo!
 

Meu irmão sonhador



Lá se vão quatro anos. Um tempo curto pra tanto carinho que a gente tinha um pelo outro. Mas um tempo enorme dentro na alma, que ficou machucada, sem volta, pelo susto, a perda, a saudade, a dor que sempre dá aquela agulhada no peito, cada vez que alguma cena, alguma imagem, algum fato do cotidiano me levam até ti, meu irmão sonhador.

Te chamo assim, porque sempre te percebi assim. Foste um sonhador na infância: uma vez, aos seis anos, teimaste em criar chamas no fogão à lenha, usando álcool... Querias um fogo rápido, e queimaste o rosto todo... Sim, era coisa de criança, travessura de menino, mas eu recordo aquilo como um gesto corajoso de irmão mais velho, que inventava coisas e (quem sabe?) que sabia fazer mágica.

Adolescente, sonhaste ter a moça mais prendada do Santa Catarina: bonita, inteligente, líder do grêmio estudantil. Sonhaste e foste atrás. Fico tão feliz de ter participado desse sonho: fui mensageira, pombo-correio, e até hoje estremeço de emoção ao recordar a cartinha escrita à mão, no bolso da minha japona lilás (sim, nossos casacos de inverno se chamavam japona), com a declaração de amor, o convite, que eu levava pra Tita, lá no Santa.

Jovem de 18 ou 20 anos, já sonhavas com a revolução. Divergimos. Eu tinha lá meus sonhos de amar e ser amada, e isso era pra mim o mais importante naquele momento. Um guri norte-americano veio a ser meu namorado. E, é verdade, eu via essa experiência única ser ameaçada pelo teu olhar, que sonhava pra mim outras coisas, outro homem, quem sabe um cara de esquerda, mesmo que fosse aquele ex-padre maluco da Espanha, que me apresentaste... Porque americano não dava: Ianques, go home!!!

Escondeste por uns dias, no sótão do nosso arcaico casarão em Novo Hamburgo, uma moça (uma guerrilheira?), e aquilo me fascinava, meu querido irmão: tu eras muito sério, lutador, querias um mundo transformado, em que a burguesia deveria ser, como dizias, reduzida a pó: Sonho com uma jamanta enorme passando por cima desses boyzinhos perfumados, com seus carrões milionários... Até hoje eu tenho que sorrir, sozinha, recordando essa imagem, que voltaste a usar muitas vezes, por anos e anos, cada vez com um alvo diferente (os caras da ARENA, os radicais-sem-noção de certas alas de esquerda, as pessoas que jogam lixo na rua, professores injustos com os alunos, políticos que não entendem nada de escola e resolvem inventar regras para a educação, e assim vai): jamanta neles! Óbvio, nós dois não somos partidários da violência, nunca fomos. Mas uma jamantinha...

Sonhaste aprender mais, e te aventuraste, com Tita, Gu e Ina, a viver nos Estados Unidos, no final dos anos 70, e abriste a cabeça, viste um mundo em que as lutas sociais iam além das conquistas de ordem econômica: pela primeira vez sentiste de perto a dor da discriminação de negros, de gays e lésbicas, em Stanford. Aprendeste a sonhar com eles. Acrescentaste mais motivos às tuas próprias lutas. E sonhaste novos sabores, inclusive na cozinha; na tua volta, eras um homem refinado, que sabia de um bom vinho, de um bom prato, e que nos mostravas em inglês novos autores, filósofos, antropólogos, gente da sociologia... Acho até que, retroativamente, me perdoaste o namorado ianque aquele...

Os sonhos se ampliavam, se tornavam cheios de graça e de uma vida cada vez mais plena.
Estive muito tempo longe, no Rio de Janeiro (do final dos 70 ao início dos 90), mas cada vinda a Porto Alegre, com minhas filhotas Jane e Raquel, era também um belo momento de te escutar e, claro, de saber de teus novos sonhos. Nos anos 80, te acompanhei, tu bem de perto sabendo de tudo sobre a criação do PT, do teu entusiasmo com uma prefeitura em que, sonhavas, se poderia fazer uma educação de verdade, pra todos, criativa, poderosa. Estive na tua posse como Secretário de Educação, e não esqueço teus olhos, o brilho feliz que ali se mostrava. Era como se dissesses: Meu sonho maior agora vai, vai, vai acontecer. Fizeste muito em tão pouco tempo por lá, mas chegou o momento de dizer basta. Ah, uma jamanta...

Isso então mataria as utopias queridas do meu irmão sonhador? Claro que não. No Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, foste o exemplo mais acabado do professor-administrador-sonhador. Cada funcionário dali do Pós amado por ti era único para ti. Ninguém jamais foi massa para esse mano sonhador. Uma palavra para este aqui, gremista, uma palavra de gozação carinhosa, do colorado vermelho até o fundo de sua alma. Outra palavra para aquela ali, que tinha uma mãe doente e precisava de escuta. Mais uma palavra lá, para aquele aluno que não conseguiu terminar a tese a tempo. E ainda outra aqui, para o professor que temia chegar a hora de se aposentar. Para todos, a escuta. Para todos, o coração inteiro. Para todos, a energia que plantava novos sonhos: sim, a ideia era essa mesmo, a de que outro mundo era possível.

Teus orientandos guardam até hoje emails que escrevias de madrugada, nas tuas insônias (que eu sempre compartilhei contigo...): naquelas mensagens, o incentivo permanente, uma gana de viver e de convidar o outro a viver, a não desistir, a criar e a imaginar uma educação digna. Nas tuas palestras, aquele texto que por vezes se perdia em mil elucubrações, que abria mil arquivos diferentes, que podia até confundir a plateia, mas que era tão denso como palavra propositiva: sonho que quer chegar-a-ser.

As pesquisas que fizeste eram todas de intervenção: pesquisa-ação. E teu coração estava inteiro com as margens. As margens da sociedade. Aqueles que se diz que são menos. E para quem, de fato, há menos, se faz menos. Foste lá trabalhar com eles, na Escola Municipal Alberto Jorge, especialmente no Galpão Rubem Berta, com os associados da reciclagem ecológica. Lembro da tua felicidade ao antecipar relatórios da tua pesquisa, quando me contavas os sonhos das mulheres recicladoras do Rubem Berta: o que elas desejavam para si e seus filhos era parte radical dos teus próprios sonhos.

Calorento que eras, imaginavas no verão uma enorme pedra de gelo, em que poderias te sentar e dizer aaahhhh, num adeus aos dias mormacentos de fevereiro, mês do teu nascimento. Mas não deixavas de lado um ativismo positivo, que poderia ser uma passeada pela feirinha ecológica do Bom Fim aos sábados – parando em cada barraca e tendo na ponta da língua mais uma novidade a comentar com o produtor rural, sobre uma agricultura de boa qualidade para todos. Sonhos, sempre os sonhos, que te faziam olhar para os bueiros cheios de lixo e as poças d’água após um chuvarão de janeiro, e comentar com a mana Vera Lúcia, arquiteta urbanista: Tem solução, tem jeito. A Prefeitura poderia fazer um meio-fio diferente, o asfalto poderia ser de outro material, como é que ninguém pensa nisso?

Em dezembro, a 40 graus, suando a não mais poder, tu embarcavas no sonho das crianças do Biba, aquelas da Associação de Peito Aberto: foste para elas o Papai Noel mais amado, que em nenhum momento lembrou do forno que era aquela fantasia. Sim, pois fantasias são matéria de sonho, e sonho bom não tem dor, não tem desconforto: só calor de humano afeto.

Pude acompanhar outros sonhos teus ainda (eram tantos, para tão curta vida...). Assim é que vi a música ocupar cada espaço do teu novo apartamento no Jardim Botânico, os aparelhos de som e vídeo tri sofisticados, em que ouvias com o maior prazer do mundo, em meio aos livros mais finos, um Bach da vida, um Chico ou um Teixeirinha e um Wando. Afinal, pra que excluir o que te fazia bem, o que te permitia sonhar com a alma mais erudita ou o coração mais brega desse mundo? Ali mesmo, no Jardim Botânico, tiveste um dia de plena felicidade, com o afilhado Érico, filho do Geraldo e da Marília: em 2009 tinhas atingido um momento de altíssima sensibilidade, e descobrias nas crianças o germe dos teus próprios sonhos. Nesse mesmo ano, em janeiro, estive contigo na casa do Biba e da Helena, e numa das fotos que fiz apareces (só tuas mãos) fotografando o exato momento em que César e Rodrigo, então com seus sete meses, pela primeira vez parecia que se olhavam, olho no olho, reconhecendo que o outro era de fato um outro. Ah, esse tema do outro... Isso mexia com tuas entranhas.

Posso dizer que estive junto de ti no planejamento de um sonho maior, esse sim, não realizado, mas arquitetado: escrever as memórias das famílias Fischer e Bueno. Especialmente a dos Bueno. Nossas completamente inesquecíveis noites de terça-feira na Tia Faeca e no Jacques foram a semente dessas invencionices, de um livro que recolhesse aquele mundo do realismo fantástico de Dom Pedrito, origem da mãe, do casamento dela com nosso pai, das tias, dos primos, dos amigos que lá ficaram ou lá existiram. Várias vezes ensaiamos verdadeiras entrevistas, metidos a antropólogos ou a historiadores, ouvindo cada palavra da Tia Cecília e da Tia Faeca. Onde ficaram essas histórias? Algum de nós irá juntá-las e te oferecer, mesmo que à distância, as páginas dessas vidas?

Teus filhos, Ina e Gu (ele, meu querido afilhado; ela, minha companheira de vídeos familiares), estão fazendo neste blog um pouco (ou muito) do que gostarias de ter realizado, na escuta tão afetuosa que fazias das nossas tias pedritenses...

Niltinho, teus sonhos são nossos sonhos. Não tem volta. Soubeste plantá-los no lugar mais quente de nossas almas. E eu te sou plenamente grata.
Com imenso carinho. Com imensa saudade.

Tua mana Rosa Maria / Julho de 2013, quatro anos depois.

Educação

Educação Conheci Nilton Fischer em 1988 quando ele era o diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Confesso que naquele momento não sabia nem mesmo da existência de uma faculdade de educação, qual o seu currículo ou utilidade. Nilton, que era de uma inteligência e simpatia extraordinária, me convidou para falar sobre o lixo de Porto Alegre e seus destinos. Deixei o carro estacionado perto da reitoria, onde havia um show, e fui achacado por um guardador de carros, que me pediu antecipadamente uma quantia que me pareceu exorbitante para guardar meu precaríssimo Fiat 147.Eu tinha dois filhos pequenos, orçamento apertado, e recusei a pagar, estava ali a trabalho, não para ver o show. Prometi ao guardador dar algum troco na volta, se ele e o carro ainda estivessem ali. A conversa foi reveladora. Nilton era apaixonado por seu trabalho, conhecia profundamente as relações sociais e políticas das comunidades carentes da cidade, tinha um interesse real e comovente pelo ser humano comum, pelos excluídos. Não tinha uma atitude paternalista, não estava ali para ajudar ou fazer caridade, seu interesse era transformar,promover cidadania. Ele tinha visto meus primeiros curtas e me instigou a fazer um trabalho sobre os caminhos do lixo, memostrou um vídeo onde alunos universitários, recebidos a pedradas, tentavam se aproximar dos moradores da Ilha Grande dos Marinheiros, viviam ali algumas pessoas que se alimentavam da sobra do lixo orgânico destinado a alimentaçãodos porcos. Fiquei profundamente impactado com a situação edisse que ia pensar seriamente no assunto. Era tarde, lhe ofereci uma carona, ele aceitou. Encontrei meu carro com dois pneus furados. Dispensei o Nilton da carona, mas ele insistiu em me acompanhar na enfadonha tarefa de trocar um pneu, levar para o conserto, de táxi, e voltar, para trocar o segundo pneu. Acho que foi naquelas idas e vindas da borracharia que surgiu o meu filme Ilha das Flores. Nilton faz muita falta, era um ser humano incomum, muito inteligente e bem humorado, com uma grande capacidade de ouvir. Pelo seu exemplo, ensinou muita gente, inclusive a mim, o verdadeiro sentido da educação. Jorge Furtado Rio de Janeiro, 24 de julho de 2013